domingo, 9 de março de 2008

Consciência da pluralidade.


NÃO SEI QUEM SOU, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade
falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se
existe (se é esses outros).
Sinto crenças que não tenho. Envelam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me aponta traições de alma a um caráter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta que se árvores e até a flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada, por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço.

Fernando Pessoa

*
Sê plural como o universo!

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