domingo, 9 de março de 2008

1960.


Luxo, carrões, festas, bebedeiras, irresponsabilidade. Festa. Pessoas bonitas, perfume, olhares de desejo, dentes brancos de alegria. Vivia-se uma nova era, a era capitalista. Saudáveis e sorridentes, parecia que os jovens dessa época estavam “de bem com o sistema”, ao menos era isso que se alastrava por todas as partes. Provavelmente sonhavam em trabalhar e poder comprar muitas coisas. Mas será que todos os americanos e europeus ocidentais viviam dessa maneira? Não havia pobreza e insegurança? E mesmo entre os jovens “bem nascidos” não haveria nenhum que sonhasse em virar o mundo de cabeça pra baixo?

Progresso econômico, segurança social, consumismo, o fantasma do comunismo parecia afastado para sempre ou pelo menos adormecido. As pessoas idealizavam um “padrão de vida”, mas é claro que nem todos tinham acesso a esses benefícios do progresso, aliás, foi uma dádiva aos países do primeiro mundo, ou será que eles também se estenderam aos países subdesenvolvidos?

No mundo inteiro, nos anos 1960, milhares de jovens conscientes mostraram que não estavam dispostos a ser tratados como carneiros. Foi a década mais contestadora do nosso século. O objetivo era atacar o Sistema, ou seja, uma sociedade que produzia misérias, mentiras, violência, angústia.

Nos EUA, contra a Guerra do Vietnã valia de tudo: passeatas, ovos podres em cima dos políticos reacionários, todo mundo ficar nu em frente à Casa Branca, camisetas com o lema Make love, not war (Faça amor, não faça guerra).

Por incrível que pareça, muitos estudantes norte-americanos tornaram-se militantes de esquerda socialista. Admiravam Che Guevara e Karl Marx. Sonhavam com uma república socialista nos Estados Unidos. Denunciaram a existência de milhares de americanos passando fome no país capitalista mais rico do mundo. Repudiavam o poder do dinheiro e a mercantilização da vida humana. Outros jovens acreditavam na não violência e na vida espiritual, em oposição ao materialismo burguês. Seus heróis eram pacifistas como Gandhi, Tolstói e Buda. Muitos se tornaram hippies. Roupas coloridas, homens de barba e cabelos compridos, moças lindas com flores no cabelo, violão, acampamentos, todo mundo tomando banho pelado no rio. Recusavam a sociedade de consumo e a família tradicional. Admiravam a cultura do Oriente, vestiam batas indianas, apreciavam a alimentação natural. Tinham algo dos socialistas utópicos e dos anarquistas pacifistas porque repudiavam o Estado e o capital, optaram pela vida comunitária em vez do individualismo da classe média bem-sucedida. Preferiam a natureza à fumaça das cidades, o rock ao barulho das metralhadoras, o sexo à violência da polícia, o amor
à sociedade de consumo.

O movimento feminista ganhou as ruas para dizer não ao machismo, queimavam sutiãs em praça pública, o que simbolicamente queria dizer que as mulheres não são mais simples objetos de gozo sexual (o mais importante é o cérebro e os peitos grandes). Foi também a época da Revolução sexual, quando os cabelos masculinos cresceram e as saias femininas encurtaram. Época em que os protestos anti-racistas cresceram grandiosamente. Os negros recusavam-se a ser tratados como cidadãos de segunda classe.

Como se vê, os anos 1960 foram riquíssimos em energia e vontade de mudança. Entretanto, muita coisa podre continuou existindo. O sistema era uma fortaleza mais sólida do que se pensava. Produziu hippies que vestiram terno e carregaram pastinha de executivo, feministas que viraram donas de casa, universitários brilhantes que viraram policiais corruptos...

Déborah Cantarini.

Nenhum comentário: