quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Conto.


Era grande, belo e impetuoso. Parecia alcançar os céus. Tudo puro, amplo, sem móveis – apenas iluminado pela claridade dos vidrais que alcançavam as mais altas torres. Um ar calmo circulava no grande santuário, localizado em algum lugar do mundo.

Gabriel aspirou o ar, aspirava loucamente, quase em transe. Correndo as mãos pelas enormes paredes de pedra. Ele girava, e girava pelo santuário. Girou sem parar durante um tempo que nem sei descrever. Girou, dançou, se entregou ao nada. Deitou no chão, sentindo o frio, seu toque, sua rústidez. Ele sorria.

Alguns metros longe dele uma fonte cantava os sons das águas. Era um acorde que acompanhava a forte respiração de Gabriel.

Ele levantou-se. Olhou para o mais alto do salão – via além. Olhando para o alto. Girando com os braços abertos.

Girou e girou até parar olhando para a fonte que jorrava seus acordes musicais. Ele mais uma vez sorria. Sorria inocente, sorria com a alma. Olhando fixadamente para a fonte foi se despindo. Como em um ritual, tirou peça por peça, sentindo a suavidade da nudez. Despiu-se completamente.

Foi andando em direção a fonte. Andou, andou, dançou, até chegar a sua borda maciçamente trabalhada. A sua mão direita, agora, sentia o toque da água. Ele saboreava o momento – enquanto o som de um relógio longínquo badalava, badalava, badalava.

Logo Gabriel era água e água era Gabriel. O ambiente estava novamente vazio e a única coisa que revelava a passagem de Gabriel por ali eram suas roupas, delicadamente estiradas ao chão, próximas à fonte que parecia cantar ainda mais alegremente doces acordes musicais.

Thiago Bertotti.