terça-feira, 22 de setembro de 2009

Hoje eu chorei. Não, eu não estava triste – apenas refletindo.

Se não fosse tão tarde entraria em um ônibus qualquer só pra eu ver as pessoas.

Tanta gente, tanta história, tantos segredos.

Queria entender o amor, o ódio, a intolerância, a submissão, a entrega.

Sem entender certamente desceria no ponto final, caminharia sem rumo.

Porque há tanta coisa arquivada na mente de cada pessoa?

Tudo deveria ser mais claro.

Queria dançar uma música alegre. Dançar com desconhecidos. Sorrir. Partilhar. Integrar.

É preciso tão pouco. É preciso tanto.

Eu quis te conhecer; eu quis conhecer, mas cabe aceitar a obscuridade das pessoas.

Cada uma com seu baú secreto atirado nas costas.

Sentimentos não deveriam ser lacrados.

Thiago Bertotti

domingo, 20 de setembro de 2009

Para: Esperança

Velha e carrancuda A esperança chego e sentou. Acendeu um cigarro comprido e mal cheiroso, pediu um whisky. Reclamou a demora, até que lhe trouxeram com pressa uma boa dose. Nesse tempo todo nem me viu na mesa ao lado. Deus!, como ela estava corcunda. Fumei um, dois, três cigarros, e, ela ainda bebia e resmungava sozinha. Eu a olhava sério, mas ela insistia em não me ver. Era inquietante, a raiva subia pelas minhas veias cheias de álcool. Então, peguei um guardanapo gorduroso e escrevi; escrevi mais do que parecia possível caber no pequeno papel - reclamei, protestei! Ela já estava bêbada, quando eu ia saindo e joguei minha carta desaforada sobre sua mesa. Só então ela levantou o olhar e nossos olhos se alinharam. Eu não sorri. Sai. Vi de lampejo ela pegando o guardanapo cheio de protestos para ler.


Thiago Bertotti.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Namoro Antigo.


É difícil deixar o banco da praça,

Andar entre os pombos,

Com o coração na boca, declarar-se

É difícil temer o não, quando se sonha com beijos ardentes

O olhar acompanha o balançar da seda; o toque da mão

Os ouvidos ouvem a voz serena entre as crianças que brincam alegremente

O desejo arde no coração que palpita

Ah! Namoros antigos

Olhares tímidos subitamente assaltados

No meio das flores da praça


Thiago Bertotti.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A vida é cheia de sabores,

De sentidos


Não é feita para ser perguntada ou compreendida

É feita para ser sentida


Sentir é viver!

Sentir apenas, nada mais


Thiago Bertotti.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Nosso estranho amor

Não quero sugar todo seu leite

Nem quero você enfeite do meu ser

Apenas te peço que respeite

O meu louco querer

Não importa com quem você se deite

Que você se deleite seja com quem for

Apenas te peço que aceite

O meu estranho amor


Teu corpo combina com meu jeito

Nós dois fomos feitos muito pra nós dois

Não valem dramáticos efeitos

Mas o que está depois


Não vamos fuçar nossos defeitos

Cravar sobre o peito as unhas do rancor

Lutemos mas só pelo direito

Ao nosso estranho amor


Caetano Veloso

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Eu sou sensível a tudo que é sincero; e insensível a tudo que não é verdade.


Thiago Bertotti.

Cotidiano

Os dias passam pra eu te ver sorrir

Beijos, abraços, aconchego vão gastando as horas até você me [matar de amor


Na rua estreitas mãos dadas e risadas

No chão da praça flores perfumam nossos momentos


As histórias ficaram distantes

O relógio só bate para nós


Absorto

Os dias se arrastam, e eu só quero te ver sorrir


Thiago Bertotti

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Beijo antigo

Música lenta, fumaça e vozes. Sorrisos, gritos e mais cortinas de fumaça. Em um canto distante atordoado, talvez inebriado pela fumaça maçante do meu cigarro, combinado com a dos outros, observo. Pessoas andam ritmadas, alcoolizadas, caindo, rindo para o nada. Em um canto escuro um beijo quase se revelava ao sexo, ali mesmo - estão protegidos dos olhares pelo desejo. Dança cheia de tesão. Tudo intenso e frio. Frio! A Argúcia dos namoros antigos se perdeu na dança, saiu rodando pela janela e fugiu com um foguete da NASA. Os beijos são números. 1, 2, 3, 498 – todos apenas saliva e língua. Estimulo para o desejo carnal. A doçura dos olhares vergonhosos, da mão tímida, do beijo que alimenta o corpo e a alma sumiu. E eu ainda quero carne, quero sangue, quero espírito. Quero inteiro, quero desejo antigo e gosto de pecado na saliva.

Thiago Bertotti.