terça-feira, 11 de março de 2008

Linhas, um monte delas

Tá tudo sujo
Tá tudo errado
Tudo mal pintado
É morte, violência
Prepotência,
Incompreensão
Os pobres não têm vez
A história tá riscada
Suja de poeira
É crime em cima de crime
Contra o cidadão
Contra a alma
Não se chega a lugar algum
Nada é real
Fingem-se sorrisos,
Compreensão
Quem é capaz de sobreviver?
Tá tudo manchado
Cheio de covardes
De coisas erradas
Cheio de reclamões
Ei?!
Tem gente morrendo
Tem gente com fome
Tem gente doente
E a população?
Vendo seu dinheiro ser roubado
De braços cruzados
Um bando de bundões
Inclusive eu,
Que só sei reclamar
E achar tudo incompreensível
Mas tá tudo sujo!
Não posso tá cego
É ilegal
É imoral
Viva o preconceito!
A hipocrisia!
Viva o cidadão!
Viva os reclamões!
Viva a sujeira!
A sujeira,
Que nos cega
Cadê o pão?
Cadê o respeito à opinião?
Cadê o acesso?
Onde está a razão?
Nem ao menos sei o que é cidadão
Onde estão os direitos?
É, está tudo borrado
E talvez seja tarde de mais
Tá impregnado
Não incomoda mais
Viva a acomodação!
Nem os textos são mais os mesmos
São fadigosos
Jogados como restos no chão
Resto que falta para que aja compreensão
Entender?
Entender pra que?
Você é só mais um bundão
E eu mais um bundão reclamão
Viva a incompreensão!

Thiago Bertotti.

Democracia? Liberdade?

Há alguns anos atrás, nós, brasileiros conquistamos a tão gloriosa e esperada liberdade dos ditadores cruéis que até então massacravam a população com torturas, repressão e censuras। Conquistamos a tão almejada democracia, que nos dá o livre arbítrio, a liberdade de expressão e ação। Como isso é lindo, não?

Hoje somos pessoas livres, podemos fazer o quisermos। O governo? “Ah! Esse aí não tem autoridade sobre mim!” “Ha ha ha, eles não prestam para nada!” “São uns bandidos e nosso presidente é um analfabeto!”

Política? “Odeio política! Política não serve para nada! Eu voto só porque sou obrigado! Voto em qualquer um mesmo!”

Livros? Escola? “Eu adoro ler e estudar”, ou então “estudar pra quê?” Quantas dessas frases nós escutamos todos os dias? A velha encenação de cultura, falsidade e representação! Aliás, isso é digno de um país de semi-analfabetos mesmo! Não é isso que escutamos da elite e dos meios fascistas de comunicação? Pena é que ninguém tem consciência disso.

As pessoas só se importam com seu status (chique essa palavra americanizada, né?), dinheiro e posição social, só pensam em ter, nunca em ser!

Vivemos numa sociedade globalizada propagada pela aura da modernidade capitalista। Está-se na sociedade do espetáculo, onde as pessoas se julgam muito espertas porque vêem televisão de plasma, tem cartão magnético para banco 24 horas e coçam as costas com coçador eletrônico. Vivemos para ganhar dinheiro e nos tornarmos “ricos”, ou quem sabe, apostar na sorte e ganhar na mega-sena.

Pessoas fingidas? Sem nenhum escrúpulo? Pisam por cima de qualquer um para obterem o que querem? Quanta ladainha, não é mesmo?

A sociedade individualista, capitalista e sem cérebro! Alimentada a todo instante por meios de comunicação pela grandiosa ascensão social, pelo poder e pela riqueza।

Imprensa suja serve para isso mesmo! Manipular, enganar! Alimentar ilusões!

Ascensão social? Faz-me rir! A maior utopia que possa existir! Não vejo tantos pobres por ai virando ricos dá noite pro dia, aliás, nunca nem vi, nem ouvi!

Viver num mundo de ilusões, almejando algo inalcançável? Viver em vão? Verdades inventadas?

Parece que não mudou muita coisa mesmo, mudou-se apenas o nome। A imprensa da grande mídia continua exercendo seu papel de sempre, manipulando, enganando e fomentando ilusões. E os tolos acreditando e venerando.

Pessoas mega-bitoladas, acham que são livres, porém é certo que o passado está muito mais presente do que enxergamos afinal a ignorância cega! Achamos que somos livres, mas somos controlados e limitados, seguimos regras impostas, disfarçadas de “liberdade” e “democracia”।

Lembrei-me de uma pesquisa publicada recentemente por um lado “esquecido” da imprensa, onde 61% dos estudantes das grandes universidades dos EUA, entre elas a Harward, declararam que esperam ser milionários antes dos 35 anos.

Os norte-americanos recebem mais ou menos 86% de mensagens idênticas pela imprensa, fruto do “pensamento único”, e ainda assim se consideram uma democracia e um país livre. 50% deles ainda acreditam que Saddam Hussein esteve envolvido nos atentados às torres gêmeas de Nova York.

Afinal, para que estou escrevendo tudo isso? Sendo que nem 1% da população irá ler। Fica ao menos como um desabafo.

Déborah Cantarini.

domingo, 9 de março de 2008

Perfil de um cidadão brasileiro.

Eliel Manoel de Jesus, 22, guardador de carros, pai de duas filhas, me conta feliz que em janeiro nascerá a terceira, é igual tantos outros brasileiros, que precisam trabalhar “duro” para sustentarem suas famílias.

Dono de um sorriso quase que perene me contou um pouco da sua rotina.

Eliel sai de casa todos os dias por volta de 8h30 da manhã, para trabalhar. Ele fica até as 17h guardando carros em frente a uma farmácia. Opa! Alguém vai saindo. Lá vai Eliel, acompanhado de seu sorriso, pegar suas moedas. Agradece, e volta balançando-as nas mãos firmes. Senta, do meu lado, ali na calçada mesmo, e continua a me contar a sua história. Os olhos, esses, sempre observando se alguém chega ou sai.

Antes de me falar do seu sonho: “Estou cuidando doutor” – grita a um senhor que acabou de estacionar seu veículo a nossa frente. Volta-se para mim e conta que quer ser promotor. Parece-me seguro que vai conseguir. “Estou fazendo Pró-jovem, ganho para estudar – ressalta – fiz curso de informática.” Conta-me com os olhos cheios de sonhos.

Olhos que se entristecem, quando me conta que tem medo de bala perdida: “Morava em um bairro muito violento, o ‘Três Barras’. Todo dia morria gente lá!” Depois que sua terceira filha nascer, ele e sua companheira, mãe das suas filhas, Maria José Duarte, 22, se mudarão para o bairro ‘Santa Helena’, que segundo ele é um bom bairro. A casa que irão ocupar é herança do seu pai que faleceu cedo, me conta. Percebendo a tristeza que tomava conta de sua face, nem procurei saber detalhes.

O trabalhador-estudante ganha entre 20 a R$ 30 por dia. Reclama que às vezes não é bem tratado. “Existem pessoas sem educação, mas são poucas.” – termina a frase correndo, mas uma vez atrás do seu ‘salário’. Fico observando-o, correndo de lá para cá. Ajeita um papelão ali, recolhe outro aqui. Moedas no bolso, e sorriso sempre na face.

Depois de uma longa conversa, informal, me despeço. Quem sabe a próxima vez que entrevistá-lo ele seja um promotor. Difícil? Talvez. Mas não impossível para o jovem, cheio de sonhos, Eliel.

Por Thiago Bertotti.

Descriminalização das Drogas.


Um polêmico assunto foi levantado nesses últimos dias com o lançamento do livro “Elite das Tropas” e seu subproduto, o filme “Tropa de Elite”: o uso das drogas.

O filme promove a legitimidade da “guerra contra as drogas” a partir de um discurso moral, que coloca nas mãos de um agrupamento policial-militar a honra de torturar e exterminar traficantes. O Bope (Batalhão de Operações Especiais) é tão-somente a versão carioca atual de uma polícia de Estado que se coloca à disposição do soberano e, se necessário, contrariando os princípios democráticos e a própria lei, como sugere o livro/filme. Faz a formação daquilo que se planeja difundir como imagem da polícia quando o assunto é corrupção e violência, os dois maiores atributos conferidos a essa secular instituição, à qual um dia se destinaram as funções ideológicas de proteger e servir à sociedade.

A corrupção e a omissão degradam o homem/policial, já a violência o dignifica como um deus.

Muitos brasileiros saem dos cinemas dizendo que a solução para o trafico é a violência, matar todo mundo dos morros. – como o novo herói brasileiro: o Capitão Nascimento, faz no filme. Parecem ignorar ou desconhecerem que há mais candidatos a chefe de boca que a gari. Mata-se um, vem outro. E o chefão intacto. No Senado? Com o martelinho na mão? Na TV?

O comércio de drogas nada mais é que parte de toda economia dos monopólios, assim como o tráfico de armas, que movimenta bilhões de dólares todos os anos no mundo todo. Dinheiro esse que é devidamente “lavado” pelos bancos e que o imperialismo não quer e não pode abrir mão. Diga-se de passagem, as armas e munições usadas pelos traficantes, assim como as drogas lá vendidas, não são produzidas em nenhum morro.

Alguma coisa está errada nisso tudo! Algo precisa mudar: legalizar o uso das drogas ou não?

Compartilho a idéia de que a legalização das drogas é o caminho mas sensato a tomar, quando se analisa todo esse estado caótico brasileiro, gerado e financiado pelo tráfico.

Ser a favor da descriminalização das drogas não significa que eu seja a favor do seu uso. Tenho consciência do mal que a droga causa ao usuário e aos que o cercam. Mas sou a favor da individualidade. Por que não dar ao cidadão o direito de escolher? Ele não está preparado? Prepare-o! Se proibir fosse solução o problema TRÁFICO não existiria. Simplesmente ninguém usaria drogas por serem proibidas, concordam?

Enquanto esse texto é escrito, o Brasil perde seus filhos lá fora em guerras constantes e injustas. Sangue é derramado em busca de poder e/ou financiamento para algo ilegal. Por conta desse financiamento, é que o tráfico de drogas nunca foi e nunca será combatido pelo velho Estado, principalmente na fase mais degenerada do capitalismo, o imperialismo. O trafico o beneficia.

Saindo da discussão política para os âmbitos da saúde pública e da redução de danos, a descriminalização das drogas representa uma evolução histórica. Quantas pessoas são infectadas com doenças, como o vírus da aids, usando drogas? A legalização, junto a uma base educacional, diminuiria os riscos de contaminação.

O País precisa, apenas, colocar em pratica sua “democracia”. Dar o direito ao cidadão brasileiro de escolher. Não simplesmente proibir.

Thiago Bertotti.

Sistema.

A vida passa tão distante de mim
Eu não consigo tocá-la
É tudo tão frio
Foi me roubado o direito de escolhas
De ser diferente
De exercer minha própria identidade
É tudo tão padrão
Tão regular
Previsível
Enquanto não me liberto da minha grade social
Minha vida, continua a passar diante dos meus olhos
E eu, sem reagir,
Vou vivendo como espectador
Dessa novela sem graça
com um único final previsível:
a desilusão

Thiago Bertotti.

Tudo de nós.

"Sempre vai haver uma canção
contando tudo de mim
sempre vai haver uma voz
contando tudo, tudo
de nós."

Paula Toller / George Israel

O sabiá no sertão.

O sabiá no sertão
Quando canta me comove
Passa três meses cantando
E sem cantar passa nove
Porque tem a obrigação
De só cantar quando chove

Zé Bernardinho

Chuva.

Chuva
Vem lavar minh'alma
Vem tirar o gosto amargo da tristeza
Vem cantar sua música
Para que eu possa dançar
E todo o mal espantar

Thiago Bertotti.

...

Às vezes acho graça , quando paro pra pensar nos seres humanos de hoje, na mídia, nos valores atuais, na nova ideologia. Esse constante otimismo das pessoas e essa pseudo-indignação perante fatos como os escândalos na nossa política, reagem como se a corrupção fosse a última descoberta científica do século XXI. “Oh! Meu Deus! Existem corruptos no Brasil!”.

Maravilha o pensamento positivo que atrai mulheres, sucesso e alegrias sem fim. Porém, me deparo é com o trânsito pesado, as caras fechadas, as balas perdidas e fico pessimista quando abro os jornais ou vejo um noticiário na TV. O otimismo, definitivamente, não está ao alcance de todos.

Atualmente o sentido da vida desloca-se da fé (coração) e dos ideais (razão) para se centrar nos objetos possuídos. Se outrora éramos movidos pela religião, posteriormente pela razão, agora o mundo (o mercado!) não se interessa pelo homem religioso ou racional. Vive-se em função de bens finitos. Mesmo para um jovem morador da favela, o tênis de marca é mais importante que a escolaridade e a formação profissional. A pessoa é o que ostenta, e não os valores e propósitos que assume. As aparências contam mais que o ser, e ainda há o socorro miraculoso do marketing para nos convencer que o refrigerante descalcificador faz bem à saúde; imprime sedução à cerveja que alcooliza, concede status ao carro luxuoso. Vale a pena votar no político safado revestido de ética!

Vivemos numa sociedade que valoriza o lucro, o “jeitinho”, a trapaça, que retorna às premissas de Thomas Hobbes onde o homem é o lobo do homem, e os valores são reprimidos pelos interesses capitalistas. Quando aprendermos a nos indignar da nossa própria ambição, da nossa própria desonestidade e transmitir e adotar os bons valores, seremos e formaremos, certamente, pessoas íntegras e verdadeiramente felizes.

Déborah Cantarini.

Um céu de sonhos.

A espera de sonhos vou vivendo
Cansado de esperar,
vou buscar
Inspiro-me nas estrelas
Coloco tudo em uma mala,
e parto sem pensar
Destino?
É o que vem pela frente
Sem medo de me machucar,
vou atrás de realizar
Realizando vou vivendo,
e vivendo vou sonhando cada dia mais
Pés calejados,
de tanto caminhar
Mala pesada,
de tanto sonhar
Não me queixo,
sigo em frente
Esperando anoitecer
Para no céu olhar
e no brilho das estrelas desejar

Thiago Bertotti.

Uma verdade inconveniente.

Estou eu aqui, novamente, para falar de DESTRUIÇÃO AMBIENTAL. Tento mudar de assunto, mas não consigo. Daqui a pouco esse blog vira um blog ambiental. Não é prazeroso escrever sobre esse assunto, mas eu tenho que escrever. Minha indignação, nesse momento, é maior que minhas vontades.



Acabei de assistir um documentário, do político Al Gore, Uma verdade inconveniente. O filme mostra a real situação do nosso planeta. “Todas” as conseqüências causadas pelo Aquecimento Global.

É difícil acreditar que o ser humano, foi capaz de encaminhar o mundo a tal ponto de destruição. O derretimento das calotas polares; o aumento de chuvas, a falta dela; as bruscas mudanças de temperaturas; o aumento na quantidade e intensidade de tempestades, tufões, terremotos, etc. Tudo nos encaminha para a extinção- EXTINÇÂO- da espécie Humana.
Para o cientista inglês, James Lovelock (páginas amarelas da revista Veja de 25 de outubro de 2006), esse fim está próximo, bem próximo. Ele acredita que em 2040 a Terra se tornará um planeta praticamente sem condições de abrigar vida humana. Segundo ele, cerca de 80% da humanidade desaparecerá antes do final deste século e os 20% restantes protagonizarão formidáveis correntes migratórias para o Ártico. Alguns cientistas acreditam que Lovelock exagera. Ninguém o acusa de estar inventando.

Todo esse cenário, causado e alimentado, pelo capitalismo, deve ser contido. Ainda existe esperança, depois do tapa na cara, bem dado por Al Gore, o documentário, em seus últimos minutos, propõe uma mudança na nossa vida em prol do planeta, da sobrevivência.

Trecho final do documentário

ESTÁ PRONTO PRA MUDAR SUA: FORMA DE VIVER?
A CRISE DO CLIMA PODE SER RESOLVIDA

DE FATO, PODE REDUZIR SUAS EMISSÕES DE CARBONO Á ZERO.

• COMPRE APARELHOS EFICIENTES
• E LÂMPADAS
• MUDE SEU TERMOSTATO E GASTE MENOS ENERGIA PARA ESQUENTAR E RESFRIAR
• CLIMATIZE SUA CASA, AUMENTE A INSOLAÇÃO, CONTROLE SEU CONSUMO.
• RECICLE.
• SE PUDER, COMPRE UM CARRO HÍBRIDO.
• QUANDO PUDER, CAMINHE OU ANDE DE BICICLETA.
• QUANDO PUDER, USE O METRÔ OU O TRANSPORTE PÚBLICO
• DIGA Á SEUS PAIS QUE NÃO ARRUINEM O MUNDO EM QUE VAI VIVER
• SE É PAI, JUNTE-SE À SEUS FILHOS PARA SALVAR O MUNDO EM QUE IRÃO VIVER
• MUDE PRA FONTES RENOVÁVEIS DE ENERGIA
• CHAME SUA CONCESSIONÁRIA DE ENERGIA E VEJA SE OFERECEM ENERGIA VERDE
SE DISSEREM NÃO, PERGUNTE POR QUE
• VOTE EM LÍDERES QUE PROMETEM RESOLVER ESSA CRISE. ESCREVA AO CONGRESSO SE NÃO TE OUVIREM, CORRA AO CONGRESSO
• PLANTE ÁRVORES, MUITAS ÁRVORES.
• FALE EM SUA COMUNIDADE
• CHAME PROGRAMAS DE RÁDIO E ESCREVA PRA JORNAIS
• INSISTA PRA QUE OS EUA CONGELE AS EMISSÕES DE CO2 E UNA-SE AOS ESFORÇOS GLOBAIS PARA DETER O AQUECIMENTO GLOBAL
• REDUZA NOSSA DEPENDÊNCIAS SOBRE O PETRÓLEO ESTRANGEIRO
• AJUDE OS FAZENDEIROS Á CULTIVAREM ÁLCOOL
• ELEVE OS PADRÕES DE QUILOMETRAGEM
• EXIJA MENORES EMISSÕES DOS AUTOMÓVEIS
• SE ACREDITA EM REZA, REZE PARA QUE AS PESSOAS ENCONTREM A FORÇA DA MUDANÇA NAS PALAVRAS DE UM ANTIGO PROVÉRBIO AFRICANO, QUANDO VOCÊ REZA, SEUS PÉS MEXEM:
• ENCORAGE TODOS QUE CONHECE À VER ESSE FILME
• APRENDA TUDO O QUE PUDER SOBRE A CRISE DO CLIMA
• E ENTÃO PONHA O SEU CONHECIMENTO EM AÇÃO

Faça sua parte.

Thiago Bertotti.

..

Não é difícil ser feliz.
Paciência, de Lenine e Dudu Falcão, aos ouvidos,
e a certeza que a vida não pára, me bastam.

Thiago Bertotti

Em que mundo estamos vivendo?


Um mundo de desigualdade social, de miséria, de favelados, de desemprego...
Um mundo de guerras, de injustiças, de corrupção, de podridão...
De individualismo, de cobiça, de ganância...
Até onde irá tudo isso?... Até quando iremos suportar tudo isso?...
Os valores se perderam na arrogância... Os heróis foram esquecidos na História...
Tudo está diferente...
Todos pedem por paz, mas não sabem como alcança-la...
Mas uma coisa é certa, como diz Bourdoukan: “Enquanto houver um explorado e um oprimido não haverá paz!”.

Déborah Cantarini.

Consciência da pluralidade.


NÃO SEI QUEM SOU, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade
falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se
existe (se é esses outros).
Sinto crenças que não tenho. Envelam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me aponta traições de alma a um caráter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta que se árvores e até a flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada, por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço.

Fernando Pessoa

*
Sê plural como o universo!

Ainda existem heróis?


Meus heróis, foram roubados de mim
Foram mutilados,
Mortos, violentados
Os que restaram estão presos em porões escuros do mundo
Impedidos de usarem seus super poderes
Deixaram-me sozinho
Agora sou só eu,
A vagar pelos labirintos,
Tentando achar alguém perdido por ai
Talvez na próxima curva me depare com um deles
E é isso que me motiva a seguir
Não importa se faça chuva ou sol
Quero meus heróis de volta.

Thiago Bertotti.

1960.


Luxo, carrões, festas, bebedeiras, irresponsabilidade. Festa. Pessoas bonitas, perfume, olhares de desejo, dentes brancos de alegria. Vivia-se uma nova era, a era capitalista. Saudáveis e sorridentes, parecia que os jovens dessa época estavam “de bem com o sistema”, ao menos era isso que se alastrava por todas as partes. Provavelmente sonhavam em trabalhar e poder comprar muitas coisas. Mas será que todos os americanos e europeus ocidentais viviam dessa maneira? Não havia pobreza e insegurança? E mesmo entre os jovens “bem nascidos” não haveria nenhum que sonhasse em virar o mundo de cabeça pra baixo?

Progresso econômico, segurança social, consumismo, o fantasma do comunismo parecia afastado para sempre ou pelo menos adormecido. As pessoas idealizavam um “padrão de vida”, mas é claro que nem todos tinham acesso a esses benefícios do progresso, aliás, foi uma dádiva aos países do primeiro mundo, ou será que eles também se estenderam aos países subdesenvolvidos?

No mundo inteiro, nos anos 1960, milhares de jovens conscientes mostraram que não estavam dispostos a ser tratados como carneiros. Foi a década mais contestadora do nosso século. O objetivo era atacar o Sistema, ou seja, uma sociedade que produzia misérias, mentiras, violência, angústia.

Nos EUA, contra a Guerra do Vietnã valia de tudo: passeatas, ovos podres em cima dos políticos reacionários, todo mundo ficar nu em frente à Casa Branca, camisetas com o lema Make love, not war (Faça amor, não faça guerra).

Por incrível que pareça, muitos estudantes norte-americanos tornaram-se militantes de esquerda socialista. Admiravam Che Guevara e Karl Marx. Sonhavam com uma república socialista nos Estados Unidos. Denunciaram a existência de milhares de americanos passando fome no país capitalista mais rico do mundo. Repudiavam o poder do dinheiro e a mercantilização da vida humana. Outros jovens acreditavam na não violência e na vida espiritual, em oposição ao materialismo burguês. Seus heróis eram pacifistas como Gandhi, Tolstói e Buda. Muitos se tornaram hippies. Roupas coloridas, homens de barba e cabelos compridos, moças lindas com flores no cabelo, violão, acampamentos, todo mundo tomando banho pelado no rio. Recusavam a sociedade de consumo e a família tradicional. Admiravam a cultura do Oriente, vestiam batas indianas, apreciavam a alimentação natural. Tinham algo dos socialistas utópicos e dos anarquistas pacifistas porque repudiavam o Estado e o capital, optaram pela vida comunitária em vez do individualismo da classe média bem-sucedida. Preferiam a natureza à fumaça das cidades, o rock ao barulho das metralhadoras, o sexo à violência da polícia, o amor
à sociedade de consumo.

O movimento feminista ganhou as ruas para dizer não ao machismo, queimavam sutiãs em praça pública, o que simbolicamente queria dizer que as mulheres não são mais simples objetos de gozo sexual (o mais importante é o cérebro e os peitos grandes). Foi também a época da Revolução sexual, quando os cabelos masculinos cresceram e as saias femininas encurtaram. Época em que os protestos anti-racistas cresceram grandiosamente. Os negros recusavam-se a ser tratados como cidadãos de segunda classe.

Como se vê, os anos 1960 foram riquíssimos em energia e vontade de mudança. Entretanto, muita coisa podre continuou existindo. O sistema era uma fortaleza mais sólida do que se pensava. Produziu hippies que vestiram terno e carregaram pastinha de executivo, feministas que viraram donas de casa, universitários brilhantes que viraram policiais corruptos...

Déborah Cantarini.

A nova ordem...


Relembrando a ditadura


De 1964 a 1985, o Brasil foi submetido à Ditadura Militar. Uma época onde o povo deixava de exercer a democracia e o país era governado por militares da alta hierarquia. Os que criticavam o governo, podiam ser presos e torturados até a morte.

Humilhação, repressão, violência, medo, censura. Foi época de negação dos direitos humanos, de supressão da cidadania. Como já tinha escrito o poeta Carlos Drummond, “Este é tempo de divisas/ Tempo de gente cortada/ É tempo de meio silêncio/ de boca gelada e murmúrio/ palavra indireta, aviso na esquina”.

Época gloriosa do movimento estudantil. Coragem, sonhos libertários, utopia na alma. A juventude queria o poder do mundo! Na década mundial dos sonhos do “poder jovem”, no Brasil os estudantes iam para a rua contra o governo que esculhambava a universidade pública e contra o regime militar. Na cabeça, o grande hino da época, Pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré: “Vem, vamos embora/ que esperar não é fazer/ quem sabe faz a hora/ não espera acontecer”.

A polícia os combatia. Escudo, cassetete de madeira, capacete. Era hora de correria. Ainda dava tempo de pichar o muro com spray: “Abaixo a repressão!” Sai fora. O cheiro de gás lacrimogênio incomodava. Era hora de botar a pastilha efervescente debaixo da língua, lenço molhado no nariz. O pau cantava! Contra a violência cega, a consciência estudantil, contra a brutalidade do Estado, pedradas, xingamento e alma libertária transbordando.

Não havia graça nenhuma, tinha gente que saia sangrando, hematomas pelo corpo, muitos eram presos, humilhados.

A ditadura não se manteve só com violência física. Ela soube se valer de uma propaganda ideológica massacrante. Numa época em que todas as críticas ao governo eram censuradas, os jornais, a tevê, os rádios e revistas transmitiam a idéia de que o Brasil tinha encontrado um caminho maravilhoso de desenvolvimento e progresso.

Com tantas dificuldades, como continuar fazendo oposição ao regime? Para muitos jovens, só havia um caminho a seguir: a luta armada.

Houve guerrilha, mortes e mais mortes. Muitos militares abusaram do poder e espancaram brutalmente a população, para que revelassem os esconderijos dos guerrilheiros. Os prisioneiros eram torturados de forma bárbara e muitos encontraram a morte depois que o corpo virou uma massa de pedaços de carne e sangue. Essa foi a Guerrilha do Araguaia, destruída em 1974.

O que dizer dessa loucura toda? Foram adultos e jovens, homens e mulheres, muitos ainda adolescentes, que tiveram a coragem de abandonar o conforto do lar, a segurança de uma vida encaminhada, a tranqüilidade da vida de jovem da classe média, para combater um regime opressor com armas na mão. Pessoas que dão a vida pelo ideal da libertação de seu povo não podem ser consideradas criminosas. Mesmo que a gente não concorde com os caminhos trilhados. Eles mataram? Certamente. Mas nunca torturaram. Nem enterravam suas vítimas em cemitérios clandestinos. E se o tivesse feito, nada disso justificaria a tortura e o assassinato executado pelo Estado. Além disso, seria mesmo inadmissível pegar em armas contra um regime opressor que esmagava o povo brasileiro? Que moral uma ditadura tem para definir como deve ser combatida?

Déborah Cantarini.

Pesquisa: Nova História CRÍTICA