A bailarina dançava sua música solitária. Uma harpa a embalava. Ela girava, flutuava no ar. Braços elegantes. O salão ecoava as notas e o som da sua sapatilha raspando sutilmente no chão polido. Uma mecha de cabelo se soltou ela parou brevemente a valsa ajeitando-a atrás da orelha. Sorrio para a harpista e voltou a bailar. Despreocupada. Sem coreografia ela girava, girava.
Lá fora uma fina garoa caia. Uma senhora bateu a xícara de chá no pires, pagou sua conta e saiu. O sino do café balançou e ela abriu o seu guarda-chuva. Esbarrou em um senhor que passava. Aquecida pelo chá sentiu também o coração quente ao mirar o senhor bem vestido. Sua pele corou e ela continuou seu caminho.
A algumas quadras dali um taxista estava parado na fila de carros. O verde refletiu na poça de água e os carros voltaram a se movimentar lentamente. O motorista desatento perdeu alguns segundos escutando sua música até ouvir a buzina do carro atrás. Só então saiu seguindo seu percurso vagarosamente.
A bailarina após bailar colocou seu casaco, despediu-se da harpista e saiu para rua. Enfrentando o vento gelado do dia de chuva ela correu para se proteger no toldo da loja de discos ao lado, só então sentiu falta de algo. Voltou para o salão e pegou sua bolsa. Deu tchau novamente para harpista e saiu sorrindo andando mais apressada.
A senhora quente agora passava por uma banca de jornal lendo as manchetes das revistas expostas enquanto recordava o olhar do senhor do esbarro. Tic-tac. Tanan-tanan. As pessoas passavam apresadas, correndo da chuva e ela lenta seguia o tic-tac enquanto lia. Quando resolveu atravessar a rua vinham carros. Aguardou.
A bailarina andava correndo pela calçada. A água molhava seus sapatos pretos brilhantes. Com a bolsa na cabeça tentava se proteger.
A senhora olhou para um lado e para o outro e resolveu atravessar – não haviam carros passando no momento.
O taxista perdido na sua música escutou o rádio chamar. Teria um passageiro. Então apertou o pé focado no destino passado pelo rádio. Aos poucos voltava a se distrair com a música.
A bailarina molhada corria e sem escutar barulho de carros resolveu atravessar a rua correndo. Tum...
Foi então que ela sentiu seu corpo batendo contra o da senhora do chá, agora gelada no fim de tarde chuvoso. O guarda-chuva escapava da mão da senhora e ganhava o céu soprado pelo vento. Elas se olharam e um som de freio fez-se audível. Tam! O carro de taxi bateu forte contra o corpo das duas. Corpos já estremecidos por um impacto anterior.
A bailarina ganhava o ar em um vôo de pluma, sua bolsa a acompanhou abrindo deixando escapar suas sapatilhas que ganhariam o chão molhado. A senhora, que mais cedo perdera o horário do oftalmologista, seguia rumo ao chão. O taxista levou as mãos à cabeça tremendo por inteiro a música escapou-lhe dos ouvidos.
Mais tarde ele saberia que o serviço de emergência não era tão rápido. Um pouco mais além que uma de suas vitimas não resistira. E por anos debruçaria sobre a janela e lembraria aquele dia de chuva. Tempo.
Thiago Bertotti.
22 comentários:
Dramático como as histórias se intercalam em um final lindo porém triste.
Imaginei a bailarina dançando no ar de olhos fechados pela primeira e ultima vez.
O ballet da morte
Muito bom.. Mas muito triste..
"Quem lê viaja" Viajei agora!
Muito bom o texto, você escreve muito bem!
você esta bom para ser escritor...
Que . . lindo!
Nossa Thi, muito bom mesmo.
Vc vai para meus 'recomendo' hahaha
Acompanharei seu blog, vale a pena!
:D
tem twitter?
@rah_merege
Um beijo, tesigo lindo!
Muito bem feito o blo,
parabéns.
bOM D+ TEM MSN!?
O melhor blog do meu .... Bairro!!!
http://blogdocharque.blogspot.com/
gosteei mtmt , você é bom (ý .
http://euaprendique.blogspot.com/
Ótimo texto, muito bom
Parabéns.
#Beijos
"Tic Tac, Trim, Tanan-tatan, Tam!"
Fora a trama que faz com que o leitor leia do início ao fim a sonoridade do seu texto é impressionante.
Muito bacana o uso que você faz desse espaço.
Abração do amigo "Calcanhar" aqui.
Aee boom o blog gosteii do texto muito foda mesmo
Seguindo aee
se quiser passa no meu
http://nicolas-sabervivercom.blogspot.com
Como alguem pode escrever tão bem assim?
Parabéns!
=)
noss, teus posts são liindos dms *_*
Cara, é muito delicado e sutil esse jeito de vc escrever!
O tempo consumirá tudo um dia...
Será que vc, que escreve tão bem não poderia comentar em algum post meu?
Seria uma honra!
http://s2ois.blogspot.com
Blog muito bom...
soh faltou melhorar o template...
confira o meu...
http://maniacosvirtual.blogspot.com/
Lembrei do seu texto!
Já passei por aki!
Mais uma vez!
Parabens
=)
Uau, vc consegue realmente fazer a gente sentir todas as sensações do texto. Triste mas ao mesmo tempo leve, parabéns!
[ se quiser dar uma passada no meu, rs http://jadenadaf.blogspot.com/ ]
Nossa. Lendo seu texto agora penser: "Caramba, como não escrevi isso antes?!" rs
Vc escreve muito bem e é o tipo de texto que eu gosto. Vi muita beleza em suas palavras e muita realidade na sua temática. Amei!
Sucesso pra vc sempre!
Ótimo ritmo e construção de histórias...
Texto com evidente sensibilidade e encantador no seu pesar!
Belo post!
;D
Ótimo, ótimo. Parabéns ;*
teus textos são liindos dms *_*
Noossa, como nunca vi teu blog antes ? :O
perfeito aqui, amei. Tuas palavras encantam :D:D:D
aah não conheço Enya não :/
Mas to indo procurar *--*
seguindo vc ;D
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